Trajetória

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2015

2020

2022

2028

2030

RESUMO DO CENÁRIO

Neste cenário, a América Latina experimenta uma demanda generalizada para a reformulação das instituições democráticas que permita superar progressivamente os problemas estruturais mais urgentes e conquistar uma maior inserção da região no mapa global. Cada país da região deve lidar com uma realidade na qual a adaptação às oportunidades e aos desafios da globalização em suas múltiplas vertentes impõe maior pressão para acordar reformas institucionais que tendam a melhorar a qualidade da democracia e a incrementar a satisfação dos cidadãos e o cumprimento de suas aspirações. Desse modo, em um número crescente de países, são geradas as condições para que sejam as próprias instituições que promovam transformações de longo alcance em áreas críticas nas quais antes predominavam os interesses particulares. Os resultados são díspares segundo cada país da região, mas deixam evidente a demanda generalizada por um novo modelo de democracia mais pragmático que supere os limites dos esquemas tradicionais. Nesse contexto, alguns países demonstram que é possível superar gradualmente certas inércias estruturais que até agora impediam a redução da desigualdade e a violência e assim conseguir que as organizações fundamentais do Estado representem de forma genuína os interesses de uma sociedade diversa. É o cenário do fortalecimento da democracia na região e da inovação institucional.

CARACTERÍSTICAS

Estrutura de poder

O poder é redistribuído e a liderança política é diversificada.

Instituições democráticas e cultura política

A democracia tende a ser valorizada e respeitada e melhora a capacidade do governo. Reformas estruturais fortalecem os incentivos institucionais e os mecanismos de participação social, inclusão e pluralismo.

Participação cidadã

O eleitorado é exigente, a participação social é incentivada e uma relação geralmente colaborativa entre o Estado e os cidadãos é estabelecida.

Desenvolvimento econômico e inclusão social

Modelos alternativos de desenvolvimento sustentável e redistribuição estão surgindo.

Integração regional

Blocos políticos e econômicos estão consolidando-se na região com força e presença crescentes na paisagem global.

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Desde 2015, a desaceleração econômica chega acompanhada de um ciclo ininterrupto de denúncia ante múltiplos casos de corrupção em vários países da região. Alguns dos governos eleitos ou reeleitos no ciclo eleitoral de 2014 e anos próximos encontram-se envolvidos em escândalos de corrupção e abuso de poder que ultrapassam a paciência dos eleitores. São descobertas novas evidências de desvio de fundos de empresas estatais. São divulgadas mais provas de saque ao erário sobre recursos destinados a obras públicas e investimento social, bem como de conflitos de interesses. São difundidos novos casos de abusos do poder executivo sobre juízes e congressistas que colocam em suspenso os sistemas de controles e contrapesos. São divulgados outros casos de transgressões à lei por parte de poderosos empresários que ficam impunes graças a suas conexões com o poder político. As barreiras que separam o Estado da ingerência religiosa se tornam imprecisas em algumas partes. Aumentam os ataques de alguns mandatários sobre a liberdade de expressão. Outros formulam novas estratégias democráticas apenas na aparência para se manterem por mais tempo no poder. E outros, em nível regional e local, demonstram sua permanente conivência com o crime organizado, o que inclusive provoca a reincidência dos desaparecimentos e os assassinatos de pessoas incômodas ao governo. Em outros casos, governantes com um maior compromisso com a transparência chegam a uma ruína de descrédito porque não puderam materializar na realidade as aspirações políticas e sociais propostas na campanha. Enquanto isso, apresentam-se preocupantes retrocessos nos índices de pobreza e desigualdade, que comprovam a fragilidade dos avanços conquistados até o momento. É a classe média, em particular, que experimenta um declive em seus níveis de vida.

Diversos estudos e pesquisas demonstram que o desprestígio das instituições democráticas e a deterioração da confiança política na sociedade talvez sejam a síndrome que com maior força se espalha ao longo do território latino-americano. Afirmam que os partidos políticos foram debilitados e cooptados por poderes fáticos e sua impopularidade continua crescendo. Para os cidadãos, fica cada vez mais difícil identificar muitos dos partidos existentes na região com uma plataforma política específica que sirva de intermediação ideológica entre os candidatos propostos e a porcentagem da sociedade que os elege. A queda da participação eleitoral é, entre outros, um traço reiterativo que enfraquece a legitimidade dos governos em nível nacional e local.

O resultado é o de uma região que se caracteriza por um esgotamento notório do ciclo político vigente e por uma aversão indissimulável da corrupção, do abuso do poder, da impunidade e da polarização, especialmente da parte de uma classe média emergente que acumula ao mesmo tempo aspirações mais sofisticadas e maiores frustrações, pois muitas de suas demandas políticas não foram satisfeitas. A isso se soma um contexto de escassez que muito se difere da bonança vivida em anos anteriores. Por isso, com o surgimento de um novo ciclo de eleições, em torno de 2018, emergem distintos tipos de reações ante a indignação social com um denominador comum: já não é tolerável para uma grande porcentagem da sociedade latino-americana que as instituições democráticas da região sucumbam ante a ausência de transparência e a impossibilidade de oferecer respostas efetivas a desafios que não podem ser adiados, especialmente os relacionados à desigualdade e à insegurança. A indignação de sempre leva agora a uma maior politização da sociedade e a indiferença de antes se converte gradualmente em uma maior participação no debate político e um maior compromisso com os assuntos públicos. A rejeição à corrupção e à inoperância do Estado passa do estado passivo ao ativo. Assim como em séculos e décadas anteriores se gerou uma consciência que qualifica como inaceitável sem nenhum atenuante a escravidão ou a discriminação por questões de raça, gênero ou etnia, agora começa a germinar uma nova consciência na qual é inaceitável não contar com instituições democráticas sólidas, transparentes e sob medida dos desafios propostos pelo século XXI.

Do interior da classe média e dos movimentos civis, que uma vez ou outra demonstraram ser o principal motor de mudança na história da região, exige-se da política e da administração pública um mínimo de transparência e eficiência para alcançar diversos fins sociais. A demanda por uma evolução nas democracias da região em vários países provém, em muitos casos, de jovens e mulheres, que rompem assim as cadeias subsistentes em sociedades ancestralmente patriarcais, e de povos indígenas, afrodescendentes e população LGBT, que se convertem em motores da mudança para derrotar a discriminação por meio de massivas campanhas de ideias e propostas em defesa do avanço material e do progresso moral como fins da ação pública em um contexto que garanta os direitos dos cidadãos. Trata-se, pois, de um crescente eleitorado, majoritariamente urbano, mais exigente e capacitado nas virtudes cívicas e nas possibilidades da tecnologia.

O anterior leva ao surgimento nesse novo ciclo político de um processo cuja nota predominante em alguns casos é a formulação de propostas que canalizam as demandas sociais e que buscam construir uma visão compartilhada de futuro em meio à diversidade através de um novo paradigma institucional que provê mecanismos mais efetivos de participação. Surgem com maior força algumas opções políticas, encarnadas em pessoas alheias às intrigas tradicionais do poder, que renovam o funcionamento dos partidos tradicionais ou que estabelecem novos partidos e movimentos políticos. As metas traçadas são claras: exigir das elites políticas e econômicas tradicionais a mudança das regras do jogo para consolidar as instituições democráticas, incentivar a reconstrução de uma ética civil mais estendida e melhorar a capacidade de governar. Com esse impulso, alguns partidos tradicionais entram na era da mudança para recuperar seu prestígio e valorizar de novo o exercício da política, recobrando pouco a pouco a capacidade de mobilizar e inspirar seus votantes a partir de certas crenças compartilhadas. Isso acarreta uma rajada de ar fresco para a renovação institucional e se rompe gradualmente o círculo vicioso de polarização política e estancamento administrativo. Através do discurso de exemplo e de maiores e melhores instrumentos de fiscalização, em vários casos se reduz pouco a pouco a tolerância cultural com a corrupção. Além disso, a incorporação transversal da dimensão de gênero se revela como uma garantia para o melhor funcionamento do Estado e das instituições. Promovem-se assim a mudança e a reforma a partir das instituições através de um roteiro deliberado mais além das conjunturas eleitorais para se ter adiante reformas específicas orientadas especialmente para a resolução dos principais desafios estruturais da pobreza, da desigualdade, da insegurança e, em muitos casos, da impunidade. Os analistas destacam que tudo isso supõe uma mudança abrupta com relação à tendência generalizada na região de promulgar soluções artificiais, imediatas e improvisadas que a condenam ao atraso. A mudança, concluem, exige grandes doses de constância e otimismo. Lamentam, não obstante, que a evolução se materialize só em alguns casos, e que em outros não haja sinais visíveis de mudança efetiva para o fortalecimento da democracia.

Muitas das reformas propostas, além de reforçar o equilíbrio entre poderes, estão orientadas a mudar o funcionamento dos partidos, que se enquadrariam agora em um contexto normativo e cultural que os concebe mais como porta-vozes legítimos dos interesses da sociedade que como maquinarias eleitorais. Além disso, busca-se assegurar a ação efetiva do governo melhorando sua capacidade de execução. A prioridade declarada é a de ter Estados mais funcionais e melhores políticas públicas a serviço do bem comum e não de interesses particulares. Parte-se da premissa de que o Estado deve representar efetivamente os cidadãos e canalizar devidamente as demandas concretas dos distintos setores da população. Dessa forma, em vários países se implementam inovações em matéria de deliberação e participação social que tendem a corrigir na medida do possível os vazios e as carências da democracia representativa tradicional, mas sem alterar suas bases conceituais. A ideia é conseguir um adequado balanço entre a representação e uma participação que não seja antagônica à figura estatal, mas sim que, ao contrário, seja exercida dentro do marco institucional vigente.

Consequentemente, promove-se um amplo conjunto de inovações para fomentar uma maior participação dos cidadãos nas decisões políticas, como as reformas ao sistema de partidos políticos ou ao sistema eleitoral, que incluem medidas para que os migrantes sejam reconhecidos como cidadãos de pleno direito e aos quais é muito mais facilitada a participação eleitoral à distância. Trata-se de inovações que procedem do Estado, não da sociedade. Desse modo, desde 2018, registra-se a lenta mudança de direção de alguns países latino-americanos rumo a um novo marco institucional mais inclusivo e em harmonia com a realidade global. As regras do jogo começam a mudar a favor da inclusão, da sociedade ativa e da produtividade. De fato, muitos denominam a década de 2020 como a da nova onda reformista na América Latina para uma profunda renovação da democracia. Seus resultados, entretanto, variam de um lugar a outro: em alguns países, o temperamento reformista se traduz em uma renovação institucional; em outros, só se materializam transformações parciais; e, em outros, as boas intenções naufragam ante as pressões dos grupos de poder tradicionais. Nos casos que se ressaltam como positivos, o que se percebe é a maturação de um modelo mais pragmático de democracia, no qual não haja um predomínio claro dos elementos de representação e participação, mas sim a continuidade e consolidação de diversos experimentos de interação entre o Estado e a sociedade civil para conceber e executar, de forma bem-sucedida, tanto as reformas estruturais de diversos tipos quanto as políticas públicas em nível nacional e local.

As inovações também se materializam no âmbito educativo, sob a certeza compartilhada de que se trata da alavanca mais igualitária que existe. Os progressos na região foram relevantes, mas insuficientes em termos comparativos com o contexto mundial. Por isso, existem países nos quais se unem partidos políticos, empresários, sociedade civil e sindicatos para melhorar a qualidade da educação que está ao alcance de todos, não apenas dos mais privilegiados, e oferecer dessa maneira melhores ferramentas para sobressair na era da informação, da tecnologia e do conhecimento. Ao chegar um novo ciclo eleitoral em 2022 e anos próximos, é patente em vários países que existe uma vontade política que reconhece a educação pública, gratuita, laica e de qualidade, com ênfase na formação cívica, no empoderamento político e no empreendimento econômico, como uma prioridade de Estado em longo prazo. Priorizam-se os conhecimentos, habilidades e destrezas necessários para investir em capital humano e apoiar uma cultura empreendedora como eixo vital da geração de emprego, da inovação, do crescimento econômico, da diminuição da pobreza e da produtividade em longo prazo.

Ainda que os frutos de tais esforços só sejam visíveis ao longo de uma geração, aproximadamente, e os resultados de diversas provas educativas mostrem avanços ainda incipientes ao longo da década de 2020, para o ano de 2025 a região considera pelo menos ter erradicado totalmente o analfabetismo e ter conseguido avanços notáveis, tanto em formação técnica e vocacional quanto em educação científica e humanística. A educação é, agora, em um alentador número de países, o eixo reitor a partir do qual se estruturam todas as políticas associadas com o desenvolvimento, a inclusão, a inovação e a democratização da sociedade. Também existem exceções nas que se registram retrocessos de todo tipo ao invés de avanços. Como alguns países similares conseguiram progressos notáveis, essas exceções ficam ainda mais notórias no contexto regional.

Por outra parte, as reformas estruturais buscam forjar sociedades mais seguras. O maior acordo entre distintos países com problemas comuns na região desde 2018 permite exercer uma inocultável pressão na comunidade internacional para promover mudanças sucessivas ao longo da década de 2020 na legislação vigente em matéria de narcotráfico. Em alguns casos pontuais, as aproximações alternativas ao consumo de drogas na região permitem conseguir um maior controle do microtráfico e, por conseguinte, reduzir um dos geradores da delinquência. Em todo caso, gesta-se um sólido acordo generalizado entre líderes políticos da região com base na ideia de que a melhor forma de enfrentar o crime organizado é através da vigência do Estado de Direito e não através das políticas de “mão firme” que levariam a um retrocesso nas garantias democráticas que foram construídas com tanto trabalho em toda a América Latina. Para 2026, o centro da luta contra o crime na região oscila em torno dos princípios da prevenção, da inclusão social, das reformas das forças armadas, polícia e sistema judicial, do acesso igualitário a uma justiça pronta e eficiente e da coerção legítima do Estado dentro dos parâmetros legais e constitucionais. Alguns países com grande experiência nessa luta se constituem como guias, colaboradores e conselheiros permanentes, fortalecendo assim os canais de cooperação regional horizontal na matéria.

As dimensões do paulatino avanço democrático na região que se experimenta em boa parte de seus países desde 2018 não se limitam só à política. Para muitos líderes políticos, é na economia que está o eixo central da ação democrática na atualidade. A queda dos preços dos produtos básicos de exportação, com os quais tanto lucraram muitas economias emergentes latino-americanas no começo do século leva muitas forças políticas e civis a respaldar reformas de distinto calado sob a premissa de que a única forma de aspirar a uma prosperidade sustentável que permita garantir uma vida digna acorde com os valores democráticos é através de maior crescimento, maior produtividade, maior inovação e maior equidade. Em vários países latino-americanos, cresce cada vez mais o número de pessoas em todas as esferas da sociedade a favor da diversificação do modelo econômico, e se apregoa a ideia de que o progresso já não pode depender de outros países, exceto em uma nova realidade multipolar. A globalização se posiciona progressivamente mais como uma oportunidade que como uma ameaça na deliberação pública latino-americana.

Do mesmo modo, os mercados e os investidores sentem maior atração pelas vantagens oferecidas pela diversidade e pela estabilidade da região. Em alguns países, de fato, é produzida uma espécie de reconciliação com a presença e com o papel dos empresários, que requer deixar de lado certas posturas ideológicas contrárias ao setor privado. Reconhece-se com maior frequência que o papel dos empresários é imprescindível e que sem eles é impossível superar o limiar que divide o mundo desenvolvido do subdesenvolvido. Também se reconhece com maior assiduidade o valioso papel que os migrantes de países fora da região ou entre países cumprem, cujas remessas são vitais para o desenvolvimento e cujos conhecimentos e destrezas são indispensáveis para a diversificação da economia.

O ciclo de reformas na região leva, assim, à consolidação de instituições que demandam uma maior responsabilidade empresarial. Na maioria dos casos, reforçam a igualdade de oportunidades e ao mesmo tempo estimulam a atividade econômica inovadora e o investimento em novas tecnologias. Acima de tudo, e em parte graças às novas leis antimonopólio, pretendem evitar a concentração de rendas e poder em poucas mãos, o que era tradicional na região. Busca-se que o crescimento econômico beneficie à grande massa de cidadãos e não apenas a uns poucos privilegiados. As novas tendências exigem substituir o apego aos monopólios, subsídios e prebendas estatais, bem como a avidez dos lucros de curto prazo ou rendas de qualquer tipo por uma gestão na qual os valores da responsabilidade corporativa estejam em alta e os resultados sociais e ambientais tenham um peso similar ao dos econômicos. Vários empresários, que há várias décadas têm caracterizado seu compromisso com o progresso da região, já deram exemplo em certos países ao demonstrar como uma operação sustentável garante uma melhor acolhida de seus produtos e serviços nos mercados internacionais. Em contraste, outras grandes empresas continuam ancoradas no velho modelo de depredação ambiental, de vulneração dos direitos trabalhistas e ingerência indevida nas instituições do Estado e de apadrinhamento com alguns de seus representantes. Demonstram, dessa forma, sua indiferença ante a onda reformista que atravessa toda a região. Essas empresas eventualmente são castigadas pelos consumidores nacionais e internacionais.

Em certos países, por sua vez, o setor público assume totalmente sua responsabilidade com políticas estáveis para melhorar as condições de segurança jurídica, infraestrutura e logística, atrair maior investimento estrangeiro, reduzir o excesso de trâmites, investir mais na pesquisa, ciência e tecnologia, aumentar a oferta e a qualidade de toda sorte de bens públicos e, de forma prioritária, estender a democratização da sociedade impulsionando com maior vigor as pequenas e médias empresas, no que constitui uma nova onda de globalização na qual o empreendimento e a formalização da atividade produtiva são a base. Desse modo, ganha cada vez mais força na região a partir de 2018 um projeto comum de economia mista, solidária e sustentável, no qual as empresas e os governos assumem papéis complementares e fins compartilhados de eficiência econômica e justiça social.

A institucionalidade renovada faz com que a América Latina tenha na década de 2020 um novo posicionamento econômico em um contexto global de crescimentos medíocres no melhor dos casos e de retorno de crise desestabilizadora no pior deles. Pelo interior da região, as condições são propícias para dar passos ambiciosos rumo à integração que fazem, por exemplo, que em 2030 um número crescente de empresas compitam em pé de igualdade mundial com produtos de alto valor agregado cujos componentes são elaborados em vários países latino-americanos em cadeias de valor complementadas ao longo de todo o continente americano. Para 2030, de fato, diluem-se as fronteiras profissionais para os jovens latino-americanos, cujos títulos universitários são reconhecidos não apenas no país de origem, mas também na maioria de países da região, o que expande seu horizonte laboral pela simplificação dos trâmites para as concessões de trabalho. O mesmo ocorre no exterior da região: em 2030 a América Latina conseguiu uma inserção mais efetiva no contexto global, especialmente com a China e com a região asiática, graças aos avanços em alianças comerciais que permitem homologar normas técnicas, harmonizar normas tributárias, facilitar a chegada de investimentos estrangeiros e flexibilizar cada vez mais a circulação de pessoas, capitais, bens e serviços. A região aprende a exercer um contrapeso efetivo que incide em sua maior relevância geopolítica. É agora uma região que se destaca pelas oportunidades inerentes às características de sua demografia, pois, com relação a outros espaços geográficos no mundo, a América Latina é um continente de milhões de jovens em idade produtiva, que abriga uma próspera classe média, que apresenta melhores indicadores em direitos humanos e que influi positivamente no incremento dos níveis de cooperação recíproca internacional.

Adicionalmente, é uma região que é vital para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental do mundo. O progressivo posicionamento econômico provém em boa parte das reformas institucionais, como do investimento em pesquisa, tecnologia e desenvolvimento agrícola para contribuir no incremento da produtividade e da sustentabilidade da agricultura, que é para 2030 um núcleo essencial dos modelos de desenvolvimento sustentável. Finalmente, começa a tomar forma a ideia de uma região que se constrói na despensa alimentar do mundo graças ao oportuno aproveitamento de seus numerosos recursos naturais. O que a natureza oferece gratuitamente à região é agora um elemento crucial para seu crescimento e desenvolvimento. Em vários casos, as reformas institucionais focam em conjugar a prosperidade coletiva com a sustentabilidade ambiental, sob a consciência de que o futuro da humanidade está nas mãos dos países com altos índices de biodiversidade. O mundo reclama, cada vez com maior voracidade, os bens e serviços ambientais oferecidos pelos ecossistemas privilegiados da região, como água doce, madeiras, fibras e medicamentos. Dessa forma, são criados, em vários países da região, empregos de boa qualidade através do biocomércio sustentável ou do investimento em projetos de turismo ecológico, entre outros.

O que foi mencionado anteriormente apresenta um nexo direto com um dos aspectos que mais chama a atenção mundial no século XXI: a desigualdade. Registra-se em termos gerais um maior financiamento das políticas sociais que combatem a desigualdade e a pobreza e promovem o emprego qualificado. Além do firme compromisso com a educação pública como via prioritária de mobilidade social, existe um consenso manifesto em vários países latino-americanos para realizar reformas de ampliação da base tributária, de redução dos impostos diretos que todos pagam igualmente, de aumento nas taxações às maiores rendas e, em suma, da concepção de um modelo mais progressivo, em consonância com a maior consciência dos direitos sociais que foi entrando na população do continente. É uma forma propícia que alguns governos específicos encontram para persistir nas políticas redistributivas e para consolidar uma estrutura estatal que esteja à altura dos desafios pendentes. Outros modelos de governança, em troca, persistem na estrutura impositiva tradicional ou fracassam na hora de implantar reformas em tal sentido ante a pressão exercida por alguns setores.

Outra prioridade institucional evidente é a luta contra a discriminação. Entre as demandas de mudança mais habituais se inclui frequentemente a necessidade de garantir uma efetiva sociedade democrática, o que exige reforçar a separação das políticas públicas, dos currículos educativos e a administração pública da religião. Surge, assim, em algumas partes, um influente movimento laico, que une vários crentes e ateus de forma igual pela defesa incondicional da liberdade religiosa, mas só nos limites estritos da esfera individual e privada. Também exige uma maior ênfase em esforços pluralistas para superar progressivamente a desigualdade de gênero e promover a participação ativa das mulheres. Assim, as agendas feministas para demandar melhores salários ou banir símbolos patriarcais ancorados no passado, entre outros, somam novos adeptos ao constatar que as reivindicações de gênero são uma das melhores vias de reivindicar a sociedade democrática para todos os grupos sociais. Em 2030, um grupo majoritário dos governos, as empresas e as entidades sociais na região está integrado e comandado por uma porcentagem maior de mulheres, que agora gozam de melhores condições trabalhistas e sociais e que persistem assim na luta por seguir posicionando suas pretensões como um pilar fundamental da onda reformista inaugurada na última década.

Essa reformulação democrática na região faz com que na maioria dos países se compartilhe um roteiro coletivo e um norte comum democrático e urbano. Entretanto, e como assinalado previamente, o balanço ao chegar 2030 é, para muitos, agridoce, porque os resultados são díspares de acordo com cada país. Em alguns casos se produz um salto qualitativo de desenvolvimento, progresso e equidade no breve lapso de 15 anos. Permanecem alguns atrasos, mas os avanços conseguidos não têm precedentes em nenhum outro momento da história. Existem algumas exceções nas quais se materializam umas reformas, mas outras ficam inconclusas devido aos prazos de negociação se sobreporem à urgência da execução. Em certos casos, as boas intenções sucumbem em grande parte ante uma precária realidade orçamentária que impede a garantia de direitos básicos e um exercício pleno da democracia social.

Em alguns países, acontece também a resistência da elite com todas suas forças às mudanças propostas. Inclusive, em casos minoritários, em 2022 e 2026 e anos próximos chegam ao poder caudilhos com uma clara tendência a reprimir o protesto social e a liberdade de imprensa e a cortar os ânimos reformistas que percorrem por toda a região, ou fundamentalistas religiosos que impõem suas próprias crenças às tendências progressistas que inspiram este ciclo reformista.

Vários dos líderes políticos de maior protagonismo nessa década reconhecem que não existem êxitos absolutos no inclinado caminho ascendente de progresso democrático, pedagogia cívica e na difícil passagem da tolerância à convivência. A característica geral que se vive dia a dia na região é a do predomínio crescente de uma visão que substitui a cultura da polarização para fundir em um mesmo ideal o aprofundamento da democracia, a regeneração da política e o crescimento inclusivo e sustentável da economia, mais além dos interesses mesquinhos e da tendência de resoluções em curto prazo. Forma-se lentamente uma nova geração que se afasta das lideranças personalistas, caudilhistas, messiânicas, patriarcais e autoritárias e valoriza profundamente a democracia, as liberdades individuais, o pluralismo político, a liberdade de expressão, a rotação no poder e a deliberação pública. A maior certeza e o mais relevante ensinamento que se expressa nas novas cúpulas de integração regional é que o futuro da América Latina é promissor desde que continue sendo uma construção de novas gerações em que primem a vontade coletiva e o bem-estar comum.

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